Uma amiga dizia-me há uns anos que a definição de católicos não praticantes era um disparate. Que não existia tal coisa. Um católico é sempre praticante e não há como não o ser. Ela dizia que alguém afirmar-se católico não praticante era tão disparatado como afirmar-se vegetariano não praticante. Ou se é ou não se é (católico/vegetariano). Eu concordava a 100% com a questão do vegetariano não praticante mas dava o benefício da dúvida ao católico não praticante. Entendia que aquelas pessoas que não participam dos rituais e que se dizem católicas apesar de não estarem dentro da comunidade que é a igreja podiam, com boa vontade, considerar-se católicos não praticantes.
Chegada a 2014, dou comigo a ter dúvidas. Quase de certeza que não pode haver católicos não praticantes. Mas eu acho que me estou a tornar numa vegetariana (ainda) não praticante. Estou a falar a sério. Tenho cada vez menos vontade de comer carne e já a substituo muitas vezes por outras coisas.
Agora estou com um dilema: o novo passatempo dos rapazes cá de casa é a pesca. E aquilo faz-me impressão. Nunca apanharam nenhum peixe que se coma, ou seja, aquela conversa da cadeia dos alimentos não pega. E no processo vão espicaçando animais indefesos sem nenhuma justificação. E nem quero imaginar se eles realmente apanhassem alguma coisa. Eu gosto de peixe mas acho que não era capaz de pescar os animais, matá-los e arranjá-los para os comer.
Por isso acho que me encaixo na definição de vegetariana não praticante. Com vontade (mas às vezes preguiça, confesso) de ser praticante...
A minha professora de natação tagou-me num post da página da escola de natação no facebook com calúnias sobre a minha pessoa. Disse que me tinha convencido a inscrever-me no próximo triatlo de abu dhabi, que vai acontecer em fevereiro. Desde aí já muita gente me deu os parabéns pela minha iniciativa e os desportistas inveterados asseguram-me que vou gostar imenso e ficar viciada em eventos deste género (é gente que, evidente, não me conhece bem).
Importa aqui repor a verdade dos factos.
O que aconteceu naquela aula de natação foi um monólogo em que ela dissertou acerca das vantagens de se treinar com um objectivo competitivo e que treinar só por desporto é bom mas não chega, é preciso estabelecer metas, blá, blá, blá, blá.
Enquanto ela falava, ignorava os meus argumentos válidos:
1) Não tenho bicicleta
2) Não pretendo comprar uma para o triatlo
3) Não consigo pedalar durante 20 km depois de ter nadado 750 m em mar aberto
4) Não tenho jeito nem capacidade para correr 5 km depois de pedalar 20 km na bicicleta que não possuo e nadar 750 m em mar aberto.
Ela, claro, tão entusiasmada com o entusiasmo que achava que estava a passar às alunas, nem ouviu nada do que eu disse. Posto isto, no desfecho do monólogo acabei a dizer que sim, que ia pensar no assunto, enquanto todas as outras asseguravam que sim senhora, se iam inscrever e que ia ser mesmo fixe irmos todas em conjunto para a prova mais fixe (???) de Abu Dhabi.
Isto não foi peer pressure. Isto foi bullying.
O Afonso, em algumas coisas continua igual a si próprio. Aqui há tempos quando o Francisco ficou constipado, resolveu fazer-lhe um desenho com uma mensagem de melhoras. E o que é que ele desenhou para o pai se sentir melhor? Um escaravelho, pois claro. Quase a página A4 toda ocupada com um escaravelho bastante realista, bem preto.
Do trabalho novo: tenho conseguido adaptar-me bem a tudo. Nova indústria, nova língua de trabalho, uma cultura empresarial no mínimo diferente. Consegui adaptar-me à semana de trabalho de 42 horas. Entro às oito e saio às quatro e meia da tarde. Já passo praticamente todo o dia sem pensar se eles estarão bem, se há roupa por lavar, se descongelei alguma coisa para o jantar (depois às vezes chego a casa e tenho um dissabor), se há pão e leite e essas coisas.
Curiosamente, aos 35 anos ainda tenho bastante capacidade para aprender coisas novas, o que me surpreendeu (pensei que ia demorar mais tempo a entrar na velocidade de cruzeiro).
Surpresa maior está a ser o que se revelou a minha maior dificuldade no regresso ao trabalho.
Não consigo estar sentada o tempo todo que é suposto. Pareço uma criança hiperactiva; ao fim de duas horas já me levanto e sento na tentativa deseperada de recuperar o foco. É mais forte do que eu e apanhou-me completamente de surpresa. Nunca sequer me lembrei que nos últimos cinco anos passei muito pouco tempo sentada e sossegada. Por sorte, no meu gabinete herdei uma bola de pilates. Assim, todos os dias vou mudando da cadeira para a bola.
As pessoas que trabalham comigo devem achar que me falta um parafuso...
Parece que há por aí mais expats com "mau feitio" :-)
Obrigada à leitora que deixou o link. Também há outro comentário de alguém que teve experiências semelhantes, assim fico mais descansada, nãp é só comigo!
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas