Às vezes o António canta e faz-me lembrar mais ou menos isto:
"Mãe, quem deu-me os p'esentes de natal foram os meninos azuis?"
"????"
"Os meninos azuis...hmm...não... o meninozazuis...o...como é que chama-se? "
[ah, o Menino Jesus]
"Eu sou muito patanino?" (pequenino)
"Só mais um patadinho!" (bocadinho)
A Francisca passou a coroa e agora o mini-trapalhão de serviço é o Antoninho :-)
Num contexto qualquer em que me chamou e eu não fui logo:
"Vou contar até 3! Mãe: 1! Mãe: 2!" (e já não o obriguei a dizer Mãe 3, que sou rapariga obediente)
Os direitos de autor deste chamamento são da Tia C. e do Tio P. O rapazinho parece que gostou do método que os tios usam para pôr o primo T. e a prima L. na ordem...
A ideia estapafúrdia já me tinha passado pela cabeça antes. Aliás, sempre que regresso de Portugal dou por mim a pensar que o que me dava mesmo, mesmo jeito ter cá era um ferro de engomar com caldeira. Em Portugal tenho um e aquilo é sempre a aviar roupa. Com um grande auto domínio e disciplina, consegui controlar o impulso. Até ter regressado destas férias de Natal. Não sei o que aconteceu, sei que o pensamento delirante não me largou. Devo ter voltado com o cérebro meio congelado do frio e antes que desse por ela, já estava cá em casa. Fiz a normal prospecção de mercado, que raramente compro alguma coisa por impulso. Comparei modelos, especificações, preços, sítios, procurei promoções. Mas o frio que apanhei na moleirinha deve ter sido tanto que até isto começar a processar normalmente demorou mais tempo que das outras vezes. Só então, com o ferro já desembalado e cá em casa, depois de engomar em velocidade record a primeira camisa, a dura realidade se abateu sobre mim: COMO É QUE EU VOU AGORA PÔR A ROUPA NA ENGOMADORIA???? Com este supra sumo do engomanço nunca mais vou ter uma boa desculpa para não passar camisas a ferro. Bem feita, para não ser estúpida e impressionável pelo débito de vapor da máquina...
"Hey, Alfonso, qué pásá?"
"Buenas notchézzz"
"Hola, ámigós"
"Gracias"
e outras coisas que tal não fazem parte da nossa língua. Obrigada por tentarem, ainda assim, bridge the gap, sei que nem é muito do vosso feitio anglo-saxónico fazer um esforço para falar outra língua que não seja a vossa.
Não falamos espanhol, a nossa filha Frantchéssca na realidade chama-se Francisca, o nosso filho Alfonso é na verdade A-FONSO, o nosso filho António não é nenhuma homenagem ao Banderas, não somos adeptos do Barcelona e o nosso país não faz fronteira com a Colômbia nem com qualquer outro país da América do Sul. Somos P-O-R-T-U-G-U-E-S-E-S de P-O-R-T-U-G-A-L. [na Europa, estão a ver?]
Gracias, era só isto.
"Mãe, podes convidar o Dzodzi [o seu amigo chama-se Georgie, mas o António ainda tem uma lista grande de "impronunciáveis"] para vir cá a casa brincar comigo?"
"Posso, claro! Mas tenho que combinar com a mãe do Georgie primeiro. Vou ver se arranjo o telefone dela"
[no dia seguinte]
"Mãe, o Dzodzi já me disse o telefone da mãe. Podes telefonar-lhe: é white à frente e white atrás com uma apple".
A minha amiga Judite tem a minha idade. 35 anos. Um dia, com dores de barriga persistentes resolveu dar ouvidos ao instinto e foi a uma urgência hospitalar. Exames para a frente, exames para trás e tumbas, cancro no pâncreas. Merda. Grande merda. Vocês não a conhecem, mas eu conhecendo, sei que começou logo a organizar-se para ser ela a tratar do cancro e não o cancro a tratar dela. Falou com médicos. Vários médicos em hospitais e países diferentes. Em Portugal a solução não agradava. Passava por pouco mais que esperar que o cancro a vencesse, tentando diminuir a dor pelo meio do caminho. Na Alemanha propuseram-lhe alternativas. Eu não sei o que faria nem como reagiria na situação dela, é sempre difícil pormo-nos no lugar de alguém numa situação destas. Mas sei que não me apetece morrer já, nem daqui a um ano ou dois ou três. Ia querer muito ver os meus filhos crescer e ver o Francisco envelhecer (acho que ele vai ser um velhote sexy e estou curiosa) e portanto, ia tentar todas as alternativas que conseguisse.
Para isto, ela precisa de ajuda. Os tratamentos num hospital privado são bastante caros. Estar fora de Portugal também. Assim, foi criada uma página no Facebook onde têm todas as informações que precisam para poder ajudar e divulgar. Há acções virtuais, leilões, corridas, aulas de zumba, enfim, tudo o que um grupo de pessoas se vai lembrando para angariar fundos para que ela possa continuar a apostar nos tratamentos que lhe vão permitir ver a filha crescer e continuar a ser a "bossy" do grupo.
A:"Mãe, porque é que compraste estes cogumelos tão grandes?"
Eu:"Porque vou fazer um risotto com eles. Chamam-se portobello"
A:"Sim, mas porque é que compraste dos portobello em vez dos normais?"
Eu:"Porque achei que ficavam melhor no risotto. São maiores, mais carnudos e mais..."
A:"OHHHHH NÃO!!!!!!"
Eu:"...saborosos!"
A:"Ah, ufffa, que alívio! Pensava que ias dizer que são mais saudáveis! Quando dizes isso sobre algum alimento é porque normalmente não presta para nada e não tem sabor nenhum..."
Estávamos num centro comercial. Hora de lavar as mãos e fazer chichi para ir almoçar. Vou com o António e digo-lhe para fazer chichi de pé para não se sentar na sanita. Depois, enquanto o ajudo, encostada a ele, a segurar-lhe o pirilau para não regar a casa de banho, garantindo ao mesmo tempo que ele não se encosta à sanita pública, imagino o que aconteceria se ele, ali com os terminais todos descontraídos, se lembrasse que não queria só fazer chichi, e sem aviso, me soltasse um valente [ploc] nos pés. O momento (bonito) passou-se, a tarde também e voltámos para casa.
À hora do jantar, nesse mesmo dia:
"Mããããããããe! Emergêêêêêêência! O António fez cocó no chão!!!!!"
Já adivinharam como isto aconteceu?
Fez chichi de pé, percebeu tarde demais que afinal queria fazer algo mais que chichi e quando deu conta, "PLOC!", já era tarde. A única diferença foi que, graças a Deus, não foi em cima dos meus pés...
Nos últimos meses tenho recebido bastantes e-mails e comentários no blogue de pessoas que estão interessadas em trabalhar por aqui ou já receberam propostas de trabalho para Abu Dhabi ou Emirados. Quando eram poucas mensagens ia respondendo a cada uma individualmente, mas cheguei à conclusão que, tirando um ou outro pormenor, quase todas as pessoas me perguntavam o mesmo e tinham dúvidas bastante semelhantes. Como o número de mensagens tem vindo a aumentar consideravelmente, resolvi fazer um post mais abrangente, que de alguma forma ajude as pessoas a conhecer um bocadinho mais do que é viver deste lado do mundo e dissipar algumas ansiedades :-)
Pesquisar sobre Abu Dhabi:
Se chegaram aqui ao blogue através do Google, em Português, muito provavelmente é porque não encontraram mais nenhum sítio com informação relevante. Em português também é pouco provável que vão longe... Se procurarem os termos “living in Abu Dhabi” ou “living in the UAE” vão ter mais sucesso.
Direcções úteis para os portugueses:
Embaixada dos Emirados Árabes Unidos em Lisboa
Embaixada de Portugal em Abu Dhabi
Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas
Fiz uma lista de FAQ, assim torna-se mais fácil fazer o resumo daquilo que quase toda a gente quer saber.
Como se vestem os locais? As mulheres ocidentais têm que andar de burqa?
Os homens locais vestem uma túnica comprida, branca nas estações quentes e de cores escuras no Inverno. Chama-se dishdasha e a dishdasha local chama-se kandoora. Podem também cobrir a cabeça com um lenço, que usam preso com uma argola preta no alto da cabeça ou simplesmente amarrado à volta da cabeça. As mulheres usam uma túnica preta chamada abaya e, normalmente cobrem o cabelo com um véu chamado shaila. Quando elas ou as famílias são mais conservadoras, podem usar um niqab, que é um lenço preto que cobre a cara, deixando os olhos a descoberto. Há várias imagens de todos estes artigos por esse google afora... A burqa, que aqui nos emirados é bastante diferente daquilo que no ocidente se conhece por burqa, é um acessório bastante caído em desuso. As mulheres mais velhas ainda a usam, mas raramente se vê uma mulher jovem com burqa, a não ser em festas ou cerimónias importantes. Nenhuma mulher ocidental tem que andar com as roupas locais; excepção feita às visitas às mesquitas. Aí, há abayas e shailas de empréstimo para as visitantes, mas mais nada...
Há muitas restrições em termos de vestuário para os estrangeiros?
Há algumas restrições em termos de vestuário. Normalmente essas restrições aplicam-se a centros comerciais e quaisquer outros sítios públicos menos “ocidentalizados”. Há indicações concretas do que se espera: ombros e joelhos tapados. O resto, vem do bom senso: nada de decotes até ao umbigo ou roupa muito justa e reveladora. Em restaurantes de hotéis, bares e na praia, estas restrições já não são tão evidentes. Podemos vestir-nos normalmente como em Portugal, sem problemas nenhuns. Nas praias também cada pessoa usa o que a faz sentir mais confortável: bikinis, fatos de banho, burkinis, abayas, kandooras, t-shirt de alças com calças de ganga, vale tudo... (há quem tente, mas estas últimas normalmente são proibidas pelos regulamentos das praias)
Há muitas restrições sociais para as mulheres (ocidentais)?
As mulheres fazem uma vida normal. Muitas mulheres (ocidentais e locais) não trabalham e podem andar à vontade em todo o lado. Podem conduzir, entrar em todo o lado, etc. Há alguns sítios onde há segregação (postos de atendimento públicos, alguns hospitais com salas de espera separadas, etc...) mas na maioria dos sítios o acesso é misto.
Um casal pode passear de mãos dadas na rua? Podem trocar um beijo mais íntimo à vista de passantes?
À partida ninguém vai dizer nada por ver um casal de mão dada. Não é muito habitual ver um casal árabe de mãos dadas, mas já tenho visto. Beijos, por mais discretos que sejam, são desaconselhados. Pode não acontecer nada, mas se alguém mais conservador vir e se sentir ofendido pode haver problemas. A política é “no PDA” (public displays of afection)
Qual é a língua mais comummente utilizada na cidade?
A língua oficial dos Emirados é o árabe, mas o inglês é utilizado em todo o lado e há uma dupla notação em praticamente tudo, desde placas de trânsito a nomes de lojas, etc. Não é essencial saber árabe; já o inglês é mesmo indispensável.
A noite da cidade tem bares abertos até depois da meia-noite?
Aqui posso ajudar pouco... Com 3 filhos e sem ninguém que fique com eles não dá para grandes explorações pela vida nocturna. Mas sim, há de tudo. Penso que a noite não acaba tão tarde como em portugal, mas há bares e discotecas normais onde se pode beber um copo e dançar.
Qual a moeda utilizada? Aceita-se pagamentos noutras moedas?
A moeda dos Emirados chama-se Dirham (AED); está indexada ao dólar e a taxa de câmbio é 1 USD = 3,67 AED. Não sei se outras moedas são aceites em todos os sítios, mas já vi efectuarem-se pagamentos em dólares e em euros em supermercados.
Pode comprar-se contraceptivos na farmácia?
Sim, com receita médica e sem receita médica (apenas em algumas farmácias, nem todas estão dispostas a vender sem receita médica)
É comum encontrar cidadãos ocidentais nas ruas?
Sim. Cerca de 80% da população de Abu Dhabi é estrangeira. No Dubai, penso que a percentagem de locais é ainda menor (cerca de 10% da população), pelo que é muito comum encontrar cidadãos ocidentais, orientais, asiáticos e quase todas as nacionalidades que nos conseguirmos lembrar. Aparentemente vivem nos Emirados pessoas de cerca de 200 nacionalidades diferentes...
O custo de vida é superior ao de Portugal?
Há duas coisas bastante mais caras que em Portugal: alojamento e educação. O preço das rendas é bastante superior a Portugal e a tendência é para aumentar. Há algumas coisas bastante mais baratas que em Portugal: os carros e o combustível têm diferenças abismais. A gasolina custa 35 cêntimos de euro por litro. De resto, é como em Portugal: há sitios mais caros e outros mais baratos, quer em termos de supermercados, restaurantes, etc. No geral os preços de supermercado são bastante parecidos com Portugal, com excepção dos legumes e frutas frescos, que são mais caros... Encontra-se praticamente tudo o que se encontra em Portugal, excepto carne de porco (à venda em alguns supermercados), bebidas alcoólicas (que são vendidas em lojas próprias), massa de pimentão e chocolate em pó :-)
Posso ir com o meu namorado/a sem estar casado/a? E se tivermos filhos, podemos levá-los? Posso ir só com o meu filho/a sem estar casada?
Bem, aqui tenho bastantes dúvidas e a embaixada dos EAU em Lisboa pode ser uma boa ajuda. A lei não permite que um homem e uma mulher partilhem uma casa sem estar casados. O sexo fora do casamento também é proíbido por lei. Não digo que não haja casos de pessoas que vivem no mesmo apartamento, em união de facto. A questão é que há mais protecção estando “legal”. Se um dos elementos do casal vier trabalhar e for casado, caso a empresa conceda essa regalia, pode ter a família no seu visto. Se não forem casados, não. Com filhos, penso que se complique ainda mais; não havendo certidões de casamento, é preciso fazer prova da guarda dos filhos e não sei até que ponto se consegue obter documentação para as crianças sem a “papelada” familiar toda em ordem...
É mais fácil procurar emprego a partir de Portugal ou ir até aí à aventura e tentar arranjar emprego localmente?
A não ser que conheçam alguém que já cá esteja e vos possa fornecer alojamento, eu faria sempre a primeira abordagem a partir de Portugal. Através do linkedin, de sites de recrutamento, etc. Ir enviando o CV traduzido para inglês e começar a sondar o mercado. Este é um país difícil para vir à aventura. É preciso visto de residência para alugar uma casa. Quem venha à aventura tem sempre que se sujeitar aos preços dos aparthotéis, o que torna a estadia bastante cara. E arranjar emprego pode demorar bastante tempo, uma vez que a concorrência é bastante maior que no mercado português. Há, literalmente, gente de todo o mundo a concorrer para os mesmos trabalhos que nós.
E quando finalmente aterrarem cá, têm sempre as páginas de facebook dos portugueses em Abu Dhabi, portugueses no Dubai e Portugueses residentes nos emirados. Estas páginas destinam-se à comunidade portuguesa que já cá vive e pode também ser uma ajuda para esclarecer dúvidas, ter opiniões sobre sítios, serviços, etc e, no fundo, pôr a comunidade em contacto.
Deixo aqui também uma imagem que me chegou através do Facebook; foi retirada de uma revista local e tem algumas informações extra:
Vamos lá a isto que a resolução de escrever mais vezes no blogue já começou a ir por água abaixo e ainda é só dia 19/01!
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas