Há um ano atrás falava-me o meu querido marido da maravilha que seria viver na Líbia: um país com um futuro por construir, com liquidez, com bom tempo, boa comidinha mediterrânica, muito potencial de desenvolvimento. Mas eu nunca me deixei convencer pelos argumentos. Havia sempre um pequeno "pormenor" que me fazia espécie. Chamava-se Khadaffi (ou Gadafi, como agora se escreve, sei lá eu). Um louco esquizofrénico que, entre outras coisas, se junta a uma manifestação popular a apedrejar a polícia comandada pelo (seu) governo, corta relações com a Suíça (expulsa empresas suiças da Líbia, cancela a emissão de vistos a portadores de passaportes do espaço Schengen, retira diplomatas líbios do país, etc.) depois de um dos seus filhos ter sido preso nesse país, acusado de agressão a dois empregados de um hotel, entre outras coisas próprias de alguém que não está bem da cabeça. Além do mais, na Líbia não existe uma boa infraestrutura em termos de saúde e educação, mesmo para estrangeiros. Por tudo isso, e porque ao menos daqui ainda não foi preciso de sair de C-130, ainda bem que estamos no Bahrain...
No post sobre as músicas recebi um comentário com este mimo de letra:
Tenho cinco reis,
tenho um alguidar
Tenho um macaquinho
de pernas pró ar
Quando me levanto
Dou-lhe um pontapé
Racho-lhe a cabeça
Olari lo lé
Obrigada pela excelente contribuição, adorei esta versão!
Não gosto muito de teorias da conspiração tipo estados Unidos, 11 de Setembro, cabalas, campanhas negras e outras coisas que tais... Mas é muito estranho que ontem à noite se tenham reunido milhares de pessoas numa manifestação de apoio ao regime e os media internacionais não tenham sequer referido este facto. Há um blogue da Al Jazeera news que acompanha ao minuto a situação aqui no Bahrain e o último post foi publicado às 19h (hora local) e referia apenas que o GP de F1 tinha sido cancelado devido à situação instável do país. Não acredito em cenários de preto ou branco, bons vs maus. Sei que há muita gente com razão para estar descontente, mas também vejo que ainda assim há coisas que aqui são garantidas a todos: acesso gratuito a educação, saúde, energia e alimentos subsidiados pelo governo (sabem quanto pagamos de electricidade por mês, por exemplo? Nunca mais de 5€), combustíveis ao preço da chuva, uma carga fiscal quase inexistente sobre as pessoas e as empresas.
Gostava de saber como é que uma manifestação que paralisou as 3 pontes de acesso a Manama pode ter passado despercebida à Al Jazeera, CNN, BBC, etc... Ou será que não ficava bem dizer que há muitos milhares de Bahrainis que não estão a lutar pela liberdade?
A imprensa podia ser mais livre? Claro que sim. A internet poderia ter um acesso menos restrito? Sem dúvida. A resposta aos protestos da semana passada foi desproporcionada e brutal? Ninguém duvida.
O Bahrain tem bastantes coisas em que pode melhorar, como a maior parte dos países deste mundo, mas acho que os media deviam fazer uma cobertura mais imparcial das situações...
imagem da manifestação de apoio ao governo do Bahrain - retirada de uma página do Facebook
Ao 9º dia de protestos lá recebemos o e-mail da embaixada a assegurar que tem todos os meios para nos por fora daqui caso seja necessário. Não era sem tempo
Que as lenga lengas e músicas inglesas /americanas para crianças batem as nossas aos pontos. Não sei se já repararam, mas as letras das nossas músicas infantis são uma tristeza. Cheias de moralismos patetas e consequências tristissimas para as brincadeiras das crianças. Foi o João que perdeu o balão e acaba a música a choramingar (devia ser proibido - se não há finais felizes na infância, quando haverá?); o Manel perdeu a bola e até hoje não sabemos se a voltou a encontrar; foi aquela criança que naquela linda manhã, por ser má, foi infeliz e depois passou a fazer tudo o que a mãe lhe diz. É o galo que apesar de ser bom cantor e ter boa voz, deixou inexplicavelmente de se ouvir. O gato que levou com o pau mas não morreu. E por aí adiante. Se eu quiser músicas mais alegres e com sentido, não encontro muitas. Ao contrário das que temos aprendido aqui. Há músicas para aprender os 5 sentidos, as partes do corpo, os sons dos animais, a fazer movimentos e a coordenar a motricidade - rolar, saltar, galopar, girar, enfim... O António adora muitas delas e dou por mim a preferir cantar-lhe essas do que as nossas...
E quem é que se lembra daquelas brincadeiras com as mãos que as raparigas faziam nas escolas? As nossa músicas para acompanhar as sequencias de palmas eram uma coisa violentíssima ou então sem sentido nenhum:
"Se tu visses o que eu vi, dominó, à porta do tribunal, dominó, as cuecas do juiz(???), dominó, embrulhadas num jornal, dominó (e agora a pior parte); Esta rua cheira a sangue, dominó, foi alguém que se matou, dominó, foi a mãe do meu amor, dominó, da janela se atirou! DO-MI-NÓ!"
"Eu fui a belgica, de avião, no aeroporto encontrei um borrachão. Pisquei-lhe o olho, apertei-lhe a mão, mas o que ele queria era um ponto de interrogação (o tarado!). STOP"
Aqui há uma coisa do género, curiosamente feita por rapazes e raparigas, e apesar de ser uma melodia sem sentido, não tem a violência das que nós usávamos. É uma sequência de sons tipo "wiggy wiggy wa wa" e lá pelo meio mete uma parvoice tipo "smart boys, lazy girls" mas nada que chegue aos calcanhares das cuecas do juiz e da morte violenta da sogra...
Esqueci-me de dizer que o António já diz adeus (sempre que o pego ao colo desata a dizer adeus a toda a gente), bate palmas, faz a coreografia tonta das doidas doidas doidas andam as galinhas e agora faz voz grossa quando alguma coisa não lhe agrada...
Eis o que temos feito com tecidos (comprados no souq, antes da confusão se instalar)
Forrar latas, para oferecer com biscoitos dos nossos lá dentro
Saco para a Francisca levar para a escola com uma muda de roupa
Agora, sempre que a conversa não lhe agrada, a Francisca responde-nos com um ar muito ofendido "Isso não se diz (ou faz, dependendo do contexto) às crianças!"
Não querendo ser chatinha e repetitiva, a mim ainda ninguém disse nada (além dos meus amigos e familiares, claro). Já agora, quando o Governo faz estas recomendações, fá-lo através de que canais? Nós estamos registados na Embaixada Portuguesa da Arábia Saudita, uma vez que o Bahrain não tem representação diplomática portuguesa e o "Governo" tem todos os nossos contactos. Ainda bem que temos acesso às noticias de Portugal e conseguimos ler as recomendações do governo português nos jornais...
imagem aljazeera - retomada da rotunda da pérola
Só não consigo perceber o que lhes passa pela cabeça para, depois de tudo o que ali aconteceu nos últimos dias, insistirem em levar as crianças com eles...
Mãe, hoje na escola criaram-se duas new rules: é proibido falar [da situação] do Bahrain e é proibido falar de are you muslim or christian.
Quem quebrar as regras vai estar em big trouble.
Dos nossos representantes consulares nesta zona, nem fumo nem rasto. Sinto-me descriminada - os meus amigos ingleses, americanos, franceses, espanhóis, brasileiros, etc falam entre si e dizem "a minha embaixada isto", "o consul aquilo", "enviaram-me por e-mail os formulários de extradição", etc, etc e eu não tenho nada para dizer. Outsider nesta conversa. A minha embaixada, consulado ou o que seja não me disse nada. Nem por telefone, nem por e-mail, nem por carta registada, pombo correio ou whatever... Já o jornal SOL conseguiu o contacto de um dos cerca de 70 portugueses que vivem no Bahrain e falou com ele. Fiquei a saber pelo SOL que o governo português recomenda «que os cidadãos nacionais evitem os locais das manifestações e se mantenham permanentemente informados sobre a evolução da situação política e de segurança no país». Obrigadinha, Jornal SOL
imagem aljazeera
Estamos todos um bocado incrédulos com os acontecimentos dos últimos dias aqui no Bahrain... Nos primeiros dias não vimos com grande preocupação as manifestações - pelo que víamos nas notícias e ouvíamos relatar de amigos nossos que se juntaram às manifestações para sentir o ambiente, estava tudo bastante pacífico. A maior parte das imagens mostrava um ambiente de festa, até. Famílias inteiras acampadas na Rotunda da Pérola a beber chá, fumar shisha e com cartazes de apelo à causa que ali os levava. Na quinta-feira de manhã acordamos com um relato, logo às 7 e 30 no elevador, de uma noite muito complicada na pérola, mortes, ferimentos graves, crianças perdidas dos pais no meio do gás e da confusão, estradas cortadas, escolas fechadas. Como nós vivemos relativamente longe do centro de Manama, temos vivido numa normalidade aparente. A diferença é que não podemos sair da nossa ilha. Temos aqui supermercados, o colégio e tudo o que precisamos no dia-a-dia. Tudo o resto nos tem chegado via BBC, CNN e Al Jazeera e alguns amigos que vivem no centro da cidade.
O ambiente entre os expatriados está um bocado pesado e já muita gente se foi embora, ou para os seus países ou para Dubai/Abu Dhabi, aqui ao lado. Nós ainda estamos na expectativa que as coisas melhorem e que isto entretanto acalme para, lentamente, regressar à normalidade.
Parece-me, no entanto, que a violência desproporcionada que foi utlizada para demover os manifestantes veio trazer o efeito contrário ao pretendido. Os discursos de protesto endureceram e a violência pode ser bem capaz de gerar (ainda) mais violência.
Estamos em stand-by.
O nosso mini-Picasso está na sua fase arquitecto. Pois o que ele gosta de desenhar agora são prédios. Já tivemos a fase insectos, a fase dinossauros, a fase super-heróis, a fase monstros e agora sempre que ligamos o computador lá vem o pedido para pesquisar imagens de prédios para copiar.
Chegou ao cúmulo de desejar que tivéssemos vista para o prédio de trás para o poder desenhar. Infelizmente, todas as nossas janelas têm vista de mar e o rapaz não gosta. Deve ser o único que prefere a vista dos prédios (ainda por cima como moramos numa zona nova, estão quase todos em construção) à vista da floating city, os nossos vizinhos da frente...
Mas sabe-a toda. Tem um fascínio por cabos (não é esquisito - podem ser de rede, eléctricos, o que for). Quando vai a dirigir-se a qualquer coisa proibida, chamamo-lo e o que é que ele faz? Olha para nós e acelera a marcha para chegar lá primeiro que nós.
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas