Mas fiquei sem perceber. Hoje a caixa do supermercado perguntou-me se eu era casada e perante a minha resposta afirmativa disse-me que eu não tinha ar de ser casada. Sendo ela árabe e estando eu com esta pança que não passa despercebida, acho que ela não me estava a elogiar.
Que domingo é fim de semana aí na civilização... Venho à net e estranho ausências nos blogues, facebooks e afins. Depois lembro-me que é domingo e que para vocês é dia de descanso cibernautico.
E o fim de semana começou oficialmente. Sei-o não porque me preocupe muito com isso de dias úteis ou dias de folga. Para mim é sempre fim de semana, com a diferença que ao fim de semana a sério estamos todos juntos 24h/24h.
Sei-o principalmente porque o trânsito está impossível (isto é o sítio de fuga dos nossos vizinhos sauditas), os centros comerciais estão cheios e as demonstrações de falta de civismo aumentam desmesuradamente.
E também porque esses nossos queridos vizinhos vêm para cá fazer tudo o que não podem fazer no seu país. E quinta à noite há sempre algazarra aqui pelas ruas; gente a gritar e a cantar, carros a queimar combustível numa viril demonstração de potência por parte dos seus donos, crianças na rua a brincar...
Enfim, é uma festa.
E entrei oficialmente na "bebélândia" (será que o acordo ortográfico permite dupla acentuação nas palavras??!) , sítio de onde já só devo sair daqui a sete semanas, mais duas, menos duas.
Estamos a preparar-nos para a recta final desta nova aventura. Mesmo à terceira continua a ser novidade e continua a ser aventura. Aqui dentro desta bola imensa que me desorienta o centro de gravidade não está o Afonso nem a Francisca. Está o António. E ele para mim já é tão presente como os irmãos, apesar de ter este aspecto de melancia gigante do Entroncamento. Todos os dias quando deixo a Francisca no colégio ela despede-se do António com um beijinho e uma festinha na barriga. À noite o mesmo.
Ao mesmo tempo dá sinais de saber que está prestes a deixar de ser a bebé da casa e a passar o testemunho. Quer mais colo, faz mais birras. Pediu-me para voltar a dormir a sesta na escola e está a comer muito mal.
O Afonso também anda mais rebelde. Acho que não tem nada a ver com o António, mas sim com as mudanças todas que temos feito. O país, a língua, as escolas. Às vezes revolta-se e fica tão transtornado que quase não o redonhecemos. Diz que quer trocar de família e às vezes ameaça sair de casa, só para nos ouvir dizer que ele faz aqui muita falta e que não seríamos felizes sem ele. Depois passa-lhe e fica muito triste com ele mesmo por ter dito as coisas, pede muitas desculpas e diz que era incapaz de fazer as coisas que disse.
Toda a gente diz as crianças se adaptam a tudo, que para eles é muito fácil. Não me parece nada assim. Eu como adulta tenho argumentos lógicos para justificar estas mudanças todas. Para eles não é bem assim. Por mais que lhes expliquemos com a nossa racionalidade típica os motivos de tão grandes mudanças, às vezes eles não os compreendem nem aceitam. Para eles é muito difícil. É tudo diferente dos hábitos e rotinas a que estavam acostumados. Para nós a adaptação é mais fácil porque conseguimos gerir melhor estas emoções todas e fazemos um esforço (às vezes também bastante grande) para as aceitar e tirar o máximo partido desta experiência. Para eles, por mais que os tentemos convencer que no futuro esta fase lhes vai trazer muitas recordações e provavelmente uma abertura cultural muito grande, é sempre difícil aceitar tudo isto sem quebrar e sem desanimar.
A Francisca é daquelas que bate palmas e se ri muito (em jeito de descompressão) quando o avião aterra.
Eu por dentro também. Cada vez tenho mais medo de andar de avião. E sempre que acontece uma destas, ainda por cima aqui tão perto, o meu coração fica pequenino, quase do tamanho de uma ervilha, a pensar na próxima viagem.
E eu estou perfeitamento consciente de todos os argumentos que envolvem probabilidades e estatísticas deste tipo de acidentes em relação a outros. Ma é um medo irracional e como tal, pouco permeável a argumentos racionais...
Veio a febre a sério. Já não se lava as mãos de cinco em cinco minutos nem se desinfecta a criançada à chegada da escola. Será que a pandemia de esterilizações, desinfecções (e, sejamos sinceros, mais preocupação com os bons hábitos de higiene em geral) diminuiram a quantidade de potenciais virus nas escolas e locais públicos? Se for assim, o pânico gerado em volta da Gripe A teve um lado positivo, apesar de agora, com o afrouxamento das medidas ter vindo a maldita febre, ranho e sinais de "virose"...
Fomos jantar fora sem crianças. Soube muito bem. Experiência a repetir!
PS: mesmo que todas as pessoas fiquem muito bem impressionadas com o comportamento deles quando saimos, são quase sempre as únicas crianças presentes nos jantares. E foi muito mais descontraído para nós, sem dúvida!
PS1: Fiquei espantada com a disponibilidade da Francisca em ficar em casa com a empregada, estava à espera de a ter agarrada às minhas pernas a chorar baba e ranho, mas nada...
Leio coisas sobre uma criatura chamada Manzarra, citações da Luciana Abreu sobre "cultura musical" como resposta a alguém que disse alguma coisa que não lhe terá agradado, polémicas sobre a música "azeiteira" dos Anjos Rosado e estou completamente a Leste de tudo isto. Não vi, não faço ideia e nem por isso irei ao YouTube perder o meu tempo.
Diziam-nos as pessoas que já cá estão há mais tempo que aqui há inverno a sério, daquele com direito a casacos e botas e lãs.
Ou isso aconteceu nas 3 semanas que cá não estivemos ou então o inverno a sério a que se referiam acabou de acabar e as mínimas não foram além dos 16ºC (e só à noite ou de manhãzinha muuuito cedo). Hoje já estivemos com 29ºC, ontem com 27ºC e portanto não tivemos sequer, na minha opinião, um vislumbre do que seria um inverno...
Por mim agradeço, que assim os pequenitos não passam esta estação com os ranhos, tosses, febres e maleitas do costume.
Aliás, com tanto sol e vitamina D, hoje já tive que comprar mais um par de ténis para o Afonso, que o rapaz tem sido só crescer!
No outro dia estava na fila para a caixa da Mothercare e uma mulher coberta da cabeça aos pés que estava atrás de mim meteu conversa comigo. Queria saber se eu alguma vez tinha utilizado umas toalhitas que trazia na mão e o que achava delas. Lá lhe disse que não, porque a Francisca desde cedo tinha manifestado intolerência às toalhitas. Ela continuou a conversar comigo de uma maneira perfeitamente normal. Sobre os filhos mais velhos,sobre esta bebé que tinha 5 dias de vida, sobre as escolas no Bahrain e uma série de outras banalidades, tudo de uma forma super simpática e descontraída.
Acontece que eu não sei se consegui disfarçar o desconforto por estar a conversar com uma pessoa sem ver a cara dela. Foi muito estranho. Por mais que pense que já estou habituada a vê-las assim e a respeitar as suas opções (e acreditem que muitas se vestem assim por opção e não por imposição), a sensação de estar a conversar com uma pessoa a quem não conseguimos ver a cara, expressões faciais e tudo o que está inerente à comunicação (que é mais, muito mais do que as palavras que se trocam) foi completamente indescritivel...
Hoje cheirou-me a bebé.
Trouxe destas férias umas coisas da Uriage que não encontramos aqui e apeteceu-me ir cheirá-las.
Cheirou-me aos meus bebés quando eram (mesmo) bebés. Já não falta tudo para haver mais um nome a associar àquele cheirinho bom..
O que custa mais é a primeira mossa. Depois passa...
Não sei porquê, sonhei que ainda não era casada e o meu marido (o actual e real) me estava a pedir em casamento. Mas com um pormenor interessante: queria que eu fosse a sua segunda mulher (como na hierarquia das mulheres muçulmanas). E ainda com outro pormenor interessante. A primeira mulher dele era a Mariza (a fadista). Disse-lhe que não queria, claro!
Será que misturei saudade do meu país e costumes (fado) com a estranheza que às vezes ainda me invade quando penso na vida destas mulheres daqui?
Podem psicanalisar isto à vontade, a ver se me entendo....
Comprinhas e mais comprinhas.
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas