Sabes, mãe, às vezes eu e os meus irmãos somos como os textos da escola. O Afonso foi a introdução, eu sou o problema* e o António foi a conclusão, o happy ending.
Acho que não gosto muito do papel que me calhou.
*aparentemente, o que nós chamávamos de "desenvolvimento" na escola, eles chamam "problem". Não no sentido de "problema", mas de questão por resolver/desenvolvimento da história.
A Francisca há muito tempo que diz que as semanas deviam ter dois dias e os fins de semana cinco. Esta semana, os sheikhs fizeram-lhe a vontade: três dias de feriado colados ao fim de semana e apenas dois dias de escola. Pena que nesses dois dias de escola tenha ido à enfermaria duas vezes, uma com dores de ouvidos, outra com um corte grande no dedo! Nesta última semana já tivemos piolhos em duas das três cabeças juvenis, cortes profundos quase com direito a pontos, febres altas, dores de ouvido e dores de cabeça.
Não me lembro de uma maneira melhor de passar os cinco dias de fim de semana!
Cheerleader. É o que a miúda diz que quer fazer como actividade extra curricular.
Ai...
Estão todos bem.
Ligam-me pouco e não gostam de falar pelo skype.
O Afonso só quer saber dos primos, da piscina e do cão da avó.
A Francisca tem loom bands (como é que se chamam essas pulseiras de elásticos aí??) até aos cotovelos.
O António, em Portugal há um mês, continua com frio. Sempre que falo com ele, está de manga comprida.
Estão divertidos.
Bem alimentados (desconfio que demais)
Já quase não metem palavras em inglês no meio das frases (é sempre um objectivo das férias em Portugal - reduzir o número de ocorrências deste tipo)
Sabes, Mãe, a H. foi dizer à M. que acha que a D. é uma parva. Mas depois faz-se de muito amiga da D. e anda sempre a dizer mal dela. Ela é uma fingida e mentirosa e anda sempre a pôr as miúdas umas contra as outras para serem amigas dela e não das outras.
[faz-te amiga dos rapazes, é bem mais fácil]
Francisca: Mum, can you please make sure that...
Eu: Francisca, cá em casa já sabes que falamos em português. Fala português, se faz favor!
Francisca: Mãe, podes por favor fazer certeza que quando passares o amaciador no meu cabelo não tocas no meu galo?
Estou quase a desistir, mas depois lembro-me de todos a falar francês na Gaiola Dourada e ganho novo ânimo para continuar a batalhar...
A rapariga estava tão contente por me ter lá as QUATRO HORAS que durou o evento e agradeceu TANTAS vezes por eu ter ficado até ao fim a vê-la, aplaudi-la, fotografá-la e a fazer claque pela equipa dela que acabou por valer a pena. O calorzinho que já vai estando não ajudou e o clima de tempestade de areia que se pôs a meio da manhã também era dispensável, mas foi uma manhã divertida (dentro do género:-)
Francisca: "Mãe, estás a esconder algum segredo de nós?"
Eu: "Hum? Como assim, segredo?!"
F: "É que agora andas sempre arranjada, compraste colares novos, pulseiras e assim coisas pirosas. Podias ter algum segredo..."
Eu: "Erm...Não, não tenho nenhum segredo, assim que me lembre... Mas que segredo achas que eu poderia ter?"
Ela não me quis/não me soube explicar, mas eu adorava saber o que terá motivado a pergunta. Que segredo é que ela acharia que eu escondia? Se fosse um adulto era mais fácil perceber a intenção da pergunta, mas com ela fiquei mesmo sem saber...
Este verão revelei-lhes que não era o Menino Jesus que dava os presentes de Natal. Foi um duro golpe e nem tenho a certeza que eles tenham acreditado em mim. Parece-lhes impossível que tanta generosidade natalícia venha dos pais, vistos por eles como os forretas-mor, que só gostam de oferecer livros e coisas boooooring.
Para piorar o cenário de um ano com sonhos destruídos, a imagem do príncipe encantado também se desvaneceu para a Francisca. Tem um príncipe real na turma e aparentemente é um rapaz normal de 7 anos, parvo como para ela são todos os rapazes (à excepção dos príncipes com que ela sonhava...) A vida é dura para quem tem ilusões :-)
Afonso: teve um evento na escola, o Rainforest cafe, que era uma acção de angariação de fundos para a "Rainforest Alliance", uma entidade que aparentemente ajuda a promover a conservação da floresta tropical. Fizeram bolos e sumos com ingredientes das florestas tropicais, cantaram uma música chamada, precisamente, "Rainforest", fizeram apresentações em powerpoint para mostrar aos pais e tiveram-nos lá, a comer, a beber e a elogiar durante mais de uma hora.
Francisca: foi o dia do Baile das princesas e fadas. Claro que a rapariga não cabia em si de contente. fui incumbida de encontrar o vestido com a melhor relação piroseira/preço e, não querendo gabar-me, acho que fiz um bom trabalho. O vestido era do mais pindérico que pode haver, mas ela, claro, adorou. Eu conheço muito bem a minha filha :-) Dançou, fez jogos e no fim, houve banquete. Uma barrigada de animação.
António: Dois anos lectivos que passaram a correr. Hoje foi o último dia de escola para ele. Em Setembro começa na "big school" (a dos irmãos) e está, claro, super entusiasmado. Já comprei a farda e ele achou o máximo ver-se com ela vestida (e eu também, apesar de o achar muito pequeno para a "Big School")
Para rematar, fomos ao cinema ver o Monsters University. É incrível como o António se aguenta um filme inteiro na cadeira, quase sem pestanejar. Seja 2D, 3D, o que for. Com óculos, sem óculos, ali fica, hipnotizado pelas imagens e só reage para se rir, voltando rapidamente a compor-se para não perder pitada.
Temos mais um infectado. Uma, neste caso. Desta vez, não é escarlatina. A bactéria que se alojou cá em casa (já éramos poucos!) tem o nome simpático de Streptococcus A e é a responsável pela escarlatina do António e da amigdalite da Francisca. O médico que nos atendeu hoje diz que pode ser coincidência estarem os dois infectados pela mesma bactéria, que não é obrigatório que a Francisca tenha sido contagiada pelo António. Eu sou como a Margarida Rebelo Pinto (com mais uns quilinhos em cima, verdade), acho que não há coincidências e isto é tudo uma grande conspiração bacteriana para me lixar a preparação para as férias e fazer com que fique tudo para a última da hora, o que basicamente é o que acontece todos os anos, mesmo sem doenças - é preciso é haver um bode expiatório.
E é isto do planeta estreptocoquiano.
PS: claro que a palavra estreptococos deu uns bons minutos de risada à conta de se pôr a tónica na penúltima sílaba e elaborar a versão escatologicó-parvinha da coisa
Obrigada a todos os que me deram feedback sobre a questão dos presentes de fim de ano lectivo, através do facebook do umbigo, de comentários aqui no blogue e no "Quem sai aos seus" da Lina :-)
Acho que vamos optar por premiar os dois, diferenciando a recompensa, até porque apesar de um se ter esforçado mais do que outro, os dois evoluiram e trabalharam (um com mais empenho que outro, mas ainda assim!). Quero recompensar a atitude, mais do que os resultados obtidos. O que eu notei ao longo do ano foram duas atitudes completamente distintas em relação às listas que fizemos em casa, às actividades extra curriculares, às críticas das professoras e aos objectivos que foram sendo fixados ao longo do ano, na escola e em casa. E acho que isso deve ser diferenciado. Todos gostamos de ver o nosso esforço reconhecido, não é verdade? E parece-me a maneira mais equilibrada de reconhecer quem se esforçou mais e dar um empurrão de motivação a quem não se esforçou tanto.
Agora falta-nos decidir como vamos fazer a diferenciação. Vai ter que ser uma coisa bem explicada para não parecer injustiça ou preferência de um sobre o outro.
Prometo que vou tentar não me esquecer de vir cá partilhar como "descalçámos a bota"!
Aproxima-se o fim do ano lectivo e é isto. Presentes de fim de ano lectivo, sim ou não? Por um lado, acho que devemos recompensar o esforço deles, como forma de os motivar e reconhecer o bom trabalho que fizeram. Por outro, temos um problema. Um foi esforçado, outro esteve-se nas tintas. Ao longo do ano fomos incentivando a participação dos dois; criámos um quadro mensal com uma lista de coisas que tinham que fazer todos os dias; essa lista inclui coisas básicas, mas que os ajudam a organizar-se no dia a dia e me poupam a mim a tarefa de repetir até à exaustão perguntas do tipo "Já preparaste a mochila para amanhã? Já leste o livro da escola? Já arrumaste a lancheira no sítio? Puseste a roupa para lavar?" and so on. Ora, uma das criaturas segue a lista meticulosamente (até porque uma semana seguida com os itens todos cumpridos dá direito a 25 dirhams). A outra criatura está-se, positivamente, borrifando. Em relação à escola, a mesma coisa. Um dedica-se e quer saber, o outro nem por isso, só se lhe apetecer mesmo muito e gostar de um assunto em particular. Então, o que fazer? Não dar nada a nenhum? Dar aos dois, mas uma coisa melhor a um do que a outro? Dar igual aos dois? Eu sou mais pela primeira ou segunda. A primeira à partida não traz consequências, a segunda vai-me fazer ouvir centenas de vezes que "Não é justo!" e coisas do género...Dar igual aos dois parece-me um mau princípio e acho que transmite a mensagem errada; além do mais, o que se esforça mais ia ficar desiludido por o outro, que claramente passa o ano a marimbar-se nas listas e nos livros e nas aulas de piano, ter os mesmos benefícios. Ia parecer que "o crime compensa"...
Any thoughts, anyone?
Nos ajudam a fazer coisas e isso, em vez de nos atrasar porque temos de ir atrás, discretamente a compor a ajuda que nos deram, adianta-nos e poupa-nos realmente tempo. Tenho dois nesta fase, o que é fantástico.
O pequenino ainda está na fase em que quando nos ajuda, é mais o tempo que gastamos a fazer novamente o que ele fez do que se tivéssemos sido nós a fazê-lo desde logo, mas faz parte. Hei de ter o retorno deste tempo investido, espero eu...
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas