Entre competições de natação e provas de atletismo dos petizes, tenho actividades para ver, aplaudir, acenar, fazer claque, fotografar e filmar todos os dias desta semana...
Uma coisa que me pergunto sempre que tenho semanas assim é: como fazem os pais nos casos em que trabalham os dois fora de casa? As crianças devem ficar tristíssimas por não terem ali ninguém a vê-los e os próprios pais acabam por não estar presentes em montes de actividades. Aqui as escolas estão-se um bocado nas tintas para isso e organizam estes eventos sempre durante a manhã. E muitas vezes os eventos duram a manhã TODA! Gosto muito de os ver nadar, correr, jogar à bola, fazer pinos e cambalhotas, mas durante uma manhã inteira é demais, até para mim, que tenho bom feitio...
Afonso: teve um evento na escola, o Rainforest cafe, que era uma acção de angariação de fundos para a "Rainforest Alliance", uma entidade que aparentemente ajuda a promover a conservação da floresta tropical. Fizeram bolos e sumos com ingredientes das florestas tropicais, cantaram uma música chamada, precisamente, "Rainforest", fizeram apresentações em powerpoint para mostrar aos pais e tiveram-nos lá, a comer, a beber e a elogiar durante mais de uma hora.
Francisca: foi o dia do Baile das princesas e fadas. Claro que a rapariga não cabia em si de contente. fui incumbida de encontrar o vestido com a melhor relação piroseira/preço e, não querendo gabar-me, acho que fiz um bom trabalho. O vestido era do mais pindérico que pode haver, mas ela, claro, adorou. Eu conheço muito bem a minha filha :-) Dançou, fez jogos e no fim, houve banquete. Uma barrigada de animação.
António: Dois anos lectivos que passaram a correr. Hoje foi o último dia de escola para ele. Em Setembro começa na "big school" (a dos irmãos) e está, claro, super entusiasmado. Já comprei a farda e ele achou o máximo ver-se com ela vestida (e eu também, apesar de o achar muito pequeno para a "Big School")
Para rematar, fomos ao cinema ver o Monsters University. É incrível como o António se aguenta um filme inteiro na cadeira, quase sem pestanejar. Seja 2D, 3D, o que for. Com óculos, sem óculos, ali fica, hipnotizado pelas imagens e só reage para se rir, voltando rapidamente a compor-se para não perder pitada.
Tenho a dizer-vos que fiquei horrorizada. Na sessão da Francisca era ver meninas de 6 e 7 anos vestidas como se realmente fossem para a noite. Abundavam os vestidos curtos, justos, os tules e as rendas nas ocidentais e as malas chanel e prada (seriam verdadeiras?) nas meninas locais. Em comum partilhavam o facto de todas irem maquilhadas e de saltos. Claro que a Francisca ficou super desiludida por ir vestida com um vestido sem brilho nenhum. Nem uma pochetezinha para amostra a pindérica levou. Mas dançou, comeu batatas fritas e divertiu-se.
O Afonso insistiu para ir de casaco de capuz, para o estilo, apesar do calor. Os rapazes iam mais descontraidos, mas muitos tinham investido tempo a compor a cabeleira e agrupavam-se para ver passar as "miúdas". Na sessão da Francisca, que foi entre as 5 e as 6 da tarde, passou maioritariamente música infantil, mas na do Afonso já se ouvia coisas tipo "I'm sexy and I know it" aos altos berros.
Uma experiência a repetir, como podem imaginar....
E fiquei preocupada. O meu filho Afonso dança assim. Eram estes movimentos que eu queria descrever em casa quando o fui acompanhar a uma tarde de "disco" na escola e não consegui... Soubera eu que estava no Youtube a inspiração da fauna que por ali vi e tinha ficado mais fácil ilustrar o que queria descrever...
Recebi no mail os relatórios da escola deles. Comecei a ler, primeiro um, depois o outro. No da Francisca sou interrompida.
"Mãe, lembras-te quando viemos embora do Bahrain e os relatórios estavam tão bons que tu decidiste dar-nos um presente? Ficámos tão contentes!"
Estes relatórios também estão bons, mas acho que desta vez fico-me pelos elogios, que não estou para encher mais esta casa de brinquedos com que ninguém brinca...
15€ por cada fotografia tirada na escola??? Só podem estar a brincar comigo! Desculpem lá, avós, ainda não é desta que ficam com aquelas fotografias bonitas dos petizes na escola...
Ou então, melhor ainda, fotografo-os eu de uniforme vestido, arranjo um fundo branco para a parede (não se ponham a inventar que eu não sei trabalhar com programas de edição de imagem, vai mesmo ter que ser um lençol branco :-)) e faço eu as fotografias. Imprimo-as em Portugal e já está, fica-me a brincadeira por menos de 5€ para os três.
Estou cheia de pena porque algumas fotos estão mesmo giras. Falta-me só ver as provas das que tiraram na escola do António, mas pelo que estou a ver os preços devem rondar o mesmo. E parece que este ano está barato, o ano passado era outra empresa e foi mais caro!
Detesto estas empresas que pensam que as pessoas são parvas ou que não sabem converter Dirhams em Euros...
1º: O meu filho Afonso vai celebrar o "Diamond Jubilee" da Raínha Isabel II. E o mais espantoso é que consegue estar genuinamente entusiasmado com isso...
2º: Os meus filhos sabem cantar o Hino Nacional dos Emirados Árabes Unidos (fiquei envergonhada, agora vou ter que lhes ensinar o português!)
Ou então já estão mesmo em estágio para as férias. É só festas. Ontem foi dia de"Gala de Natação" para o Afonso, hoje foi o dia da floresta tropical da Francisca, que quis ir vestida de macaco, amanhã é dia sem uniforme para a Francisca, como prémio por terem ganho mais pontos que os outros a alinharem-se para a entrada nas salas. Aqui quando se deixa as crianças na escola, não as vamos levar à sala. Há um sítio pré definido e eles fazem fila junto da sua professora. A turma que tiver mais estrelas ao fim de um determinado tempo, ganha um prémio. E o prémio é.... ter um dia sem uniforme e irem beber chá (how british!) com o diretor da primária. E isto, pelos vistos resulta! A Francisca está toda entusiasmada por ir ao "Tea with Mr. Wilkinson". Vocês haviam de ver a figurinha que é este senhor... Não imaginava que a minha filha valorizasse o facto de ir beber chá com ele... (mas também já ouvi dizer que a par ´com o chá, se serve pizza, acho que vem daí o entusiasmo).
No fim de Fevereiro a escola vai fazer um dia internacional, em que os pais podem organizar-se e montar uma mesa com coisas típicas do seu país. Nós, como somos só duas portuguesas e temos poucos recursos (nenhuma de nós tem aqui muita coisa sobre Portugal - roupas, bandeiras, cartazes etc), vamos dividir a nossa mesa com outro país tão pobretanas como o nosso, cuja representante também não veio para os Emirados carregada de coisas típicas do seu país.
A nossa companheira de mesa vai ser a representante da Grécia. Espero que os pais alemães, franceses e os ingleses não se armem em engraçadinhos...
Cada vez mais me convenço que um modelo de escola em que o ensino seja menos expositivo e dirigido é o melhor para eles. Andam felizes, soltos e à solta na escola nova. Não há naughty chairs, nem detention por ter as unhas e o cabelo comprido. Há meditação, filosofia, yoga e coisas que os fazem ter mais confiança e auto estima. Há uma horta, árvores para trepar, cordas para baloiçar nas árvores, animais, pessoas muito diferentes, aceites na sua diferença. Portugueses, ingleses, americanos, alemães, brasileiros. Também há farda, língua portuguesa, estudo do meio e matemática, não se assustem!
Alguém se quer aventurar na exportação destas ideias e destes modelos para os países do médio oriente? Voltar para lá com uma escola deste género era ouro sobre azul…
À conta das maravilhas da responsabilização e autonomização das criancinhas, todos os dias há qualquer coisa que vai para a escola e já não volta. A comida da lancheira muitas vezes vem intacta (parece que é suposto as criaturinhas gerirem o seu tempo e, claro, meia hora não é suficiente para sentar, abrir a lancheira e efectivamente comer o que lá vai dentro). Resultado, têm lanchado muito bem em casa; muitas das vezes o lanche é a própria comida que veio da escola. Ah, isto quando a lancheira volta, porque já houve um dia em que isso não aconteceu. Ficou perdida, ainda não se sabe muito bem onde... E uma das caixas da comida, e um casaco, e um atacador dos sapatos (???). Eu sei que eles são pequenos e demora a aprender isto tudo de sermos responsáveis pelas nossas coisas e organizarmo-nos de maneira a não perder nada. Epá, mas um atacador de sapato??? Como é que se perde um atacador de sapato sem se dar conta???
Hoje a distracção valeu-lhe uma ida à detention room. Motivo: foi fazer chichi à casa de banho das meninas. Como aconteceu isso?, pergunto, Ia tão aflito que ia a segurar a pilinha e a olhar para o chão e não vi o sinal da porta. Entrei na primeira porta que encontrei.
Tenho um filho no Grade 1 todo orgulhoso por ser o Prefect (acho que deve ser o nosso equivalente a delegado de turma) da sua classe. Entre muitos Abdollah, Mohammed, Ahmed, há uma menina chamada Cecília que fala português transatlântico, o que não deixa de ser uma lufada de ar fresco.
A Francisca também está toda orgulhosa de estar no KG1 e acordou toda cheia de iniciativa e vontade. Vamos ver se se mantém. A mim, sinceramente, desagrada-me um bocado a arabização crescente da escola. Há cada vez menos ocidentais e cada vez mais árabes. Um ambiente mais heterogéneo parece-me que talvez fosse mais saudável. Uma coisa curiosa é que o nome da professora da Francisca soa estranhamente a português neste meio. Parece que está fora de contexto. Tenho que perguntar à Miss Mascarenhas se é luso descendente (mas às escondidas, que neste colégio os pais estão proibidos de falar com os professores - regra que parece estranha até se conhecer os pais árabes e os modos com que se dirigem às pessoas que lhes prestam serviços, no geral).
Detesto sentir-me assim... Estava eu já mentalizada que os ia manter nesta escola que, apesar de não me deixar completamente descansada quanto a uma série de aspectos, até nem é má noutras coisas, quando me ligam de uma das (supostamente) melhores escolas daqui a dizer que têm duas lindas vagas para os meus dois lindos filhos.... A decisão seria fácil se não implicasse mudar de casa para o lado oposto do Bahrain habitável e prescindir de um trimestre já pago na escola actual (e aqui a coisa é a doer em termos de preços...). Há também o factor incerteza: será que a mudança compensa? Será que a outra escola é bastante melhor que esta ou será só reputação? Mas porque é que me vieram desinquietar agora, quando eu já estava (mais ou menos) conformada e resignada??
Detesto não saber o que decidir...
Não há nada melhor que as fardas escolares. Estou fã. Nunca mais quero bibes. O que nos poupa em roupa e em chatices pela manhã não tem preço.
É o último dia do ano lectivo. Passou a correr, este ano. No final parece-me que o saldo é positivo, apesar das escolas daqui serem muito diferentes das escolas portuguesas. O Afonso aprendeu a ler, a escrever e a contar. Pelo meio ainda aprendeu a falar, a brincar e até a sonhar em inglês. A Francisca também já lê algumas palavras, mas, tal como no português, o seu discurso em inglês ainda é meio abebezado. Foi um salto enorme desde a última escola com um ambiente super livre, democrático e criativo até esta escola, mais tradicional e conservadora e a meu ver, mais redutora. Mas não vale a pena matar a cabeça com isso. Aqui não vamos encontrar melhor que isto e resta-me a solução de ter que fazer todo o outro trabalho em casa. No relatório da Francisca vêm coisas como "tem boas maneiras", "é boa estudante", etc. Não me faria confusão, se estivéssemos a falar de meninos da escola primária. Mas não. Ela esteve na sala dos 3 anos. Precisava de correr, brincar às casinhas, ou só brincar, mesmo que não fosse às casinhas. Mas naquela sala não há brinquedos. Há mesas e cadeiras para os meninos estarem sentados, há um quadro onde a professora "ensina a lição". Mas o mais curioso é que eles gostam. Brincam à hora de almoço e depois em casa, muito. Estão todos orgulhosos de tudo o que aprenderam e fazem questão de o demonstrar. Saem felizes da escola todos os dias e até já têm amigos. Para mim chega, por agora.
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas