Estava hoje a ler um post no blogue da minha amiga Rita e lembrei-me do António. Tal como a C., o António também é um bocadinho Pinóquio. Só que o António não faz acusações pouco credíveis (como a C., que acusa o cão). Ele escolhe o alvo que lhe parecer mais verosímil e mantém a mentira dele até ao fim, sejam quais forem as consequências. Nunca assume que foi ele a fazer uma asneira. E não é que tenha algum medo das consequências; é mesmo porque é torcido e dá-lhe um gozo genuíno incriminar os irmãos. Nunca vi como isto, nenhum dos outros era assim. E finge-se ofendidíssimo se não é levado a sério ou se nós mostramos alguma desconfiança da versão que nos está a contar...
- "What's your name?"
- "Ántowniow"
- Como é que te chamas?
- "Tóni"
E vocês lêem os meus posts que chegam sempre atrasados em relação às polémicas do momento e pensam "Ai que rapariga tão ponderada, tudo o que ela escreve é alvo de uma reflexão de dias, uma coisa bem estudada e fundamentada!"
Nada disso: é apenas preguiça e desorganização mental.
Cada vez que leio alguma coisa sobre o episódio do Miguel Relvas no ISCTE, lembro-me daquelas vezes em que, nos tempos de faculdade, havia greves dos alunos em dias de frequências ou exames. Havia sempre uns tarados que achavam que a liberdade deles era maior e melhor que a minha. Eles tinham o direito à greve. Eu não tinha direito a não fazer greve porque eles decidiam trancar as salas a cadeado e não deixavam ninguém entrar. Está certo. Claro que consegui sempre entrar e fazer o que tinha a fazer, até porque sendo trabalhadora-estudante, não me podia dar ao luxo de faltar dois dias ao trabalho para fazer as frequências e depois não as fazer... Isto era um insulto para as criaturas que não conheciam a expressão "A minha liberdade termina onde começa a liberdade dos outros"...
Ora este relambório todo para dizer que, se há maluquinhos que queiram ouvir o que o Relvas tem a dizer, numa conferência ou evento para o qual o senhor foi convidado como orador, quem sou eu para o impedir de falar? Porque é que há pessoas para quem a democracia e a tolerância só funcionam se for para concordar com o seu ponto de vista?
Indignem-se, reclamem, discutam ideias e ideais. Mas não sejam mal-educados, se faz favor.
Os homens pequenos desta casa vão dar-me muito trabalho. Um dia, cheguei à sala e estava o caos instalado. Brinquedos por toda a parte, uma confusão. Pedi ao António, autor do desvario, que arrumasse. Fez-se de surdo. Pedi novamente, olhou para mim e grunhiu um "Não" quase inaudível. Fui aumentando a veemência do pedido e a recusa dele aumentou proporcionalmente. Até que chegoui aquela altura em que já estávamos ali os dois a medir forças (ai os terrible-two...) e ele, para acabar com a conversa resolve dizer um NÃO sonoro e atirou o brinquedo que tinha na mão para o chão, com força. Baixei-me à altura dele para lhe dar um raspanete. Ele ouviu tudo, muito focado no que lhe estava a dizer. No fim, põe a mão sapuda na minha bochecha, a fazer-me festinhas e diz "Pupa (desculpa), Mãe!" e segue-se um abraço e um beijinho. No fim larga-me e remata, muito meloso: "A mãe aúma (arruma), sim?"
Envergonho-me de contar o desfecho desta história e revelar quem é que andou de rabo para o ar a apanhar os destroços da brincadeira dessa tarde...
A Francisca chega a casa e pergunta, ansiosamente, se há louça para tirar da máquina. Se lhe digo que sim, vai a correr, feliz e a cantar, tirar a louça da máquina. Hoje iniciei-a na arte de me tirar cafés. Peço-lhe o café e ela liga a máquina, vai buscar a chávena, selecciona o café curto, põe o adoçante e ainda pergunta se eu quero que ela mexa o café. Sou bem capaz de me habituar a esta vida. Amanhã se calhar faço-lhe um briefing sobre roupa branca, roupa de cor e funcionamento da máquina de lavar, pode ser que pegue.
Já o Afonso, só faz as coisas de cara alegre se for recompensado monetariamente.
O pequenino, doente em casa, de tablet na mão a jogar (é aproveitar quando está sozinho para tocar na chicha, que já se sabe que o terceiro está na base da cadeia alimentar das prioridades electrónicas):
"C'mon! Mãe, o jogo não dá! Põe o painting on, please!"
Este ano não tive banca na escola dos miúdos nem lá fui ver as celebrações do "International Day", aquele dia em que as mães se juntam em stands e apresentam os seus países. Portugal não esteve representado. A bem dizer, no meio de 1600 alunos, haver 3 portugueses se calhar nem merece assim tanta representatividade.
Quem é que eu quero enganar? A verdade é que não estive para me chatear. Fazer uma mesa, cartazes, comida, compilar informação, etc, etc dá muito trabalho e não me apeteceu. E como o António tem estado meio adoentado esta semana também não fui lá ver as mesas dos outros países. Costuma ser um espetáculo engraçado, uma coisa super competitiva a ver quem faz mais e melhor. As árabes, pelo que vi, bateram tudo: havia duas carrinhas de empresas diferentes de organização de eventos e catering no parque de estacionamento. As senhoras deram-se ao trabalho de contratar empresas de catering para os stands delas. Muito à frente... Fiquei arrependida de não ter lá ido! Deve ter havido comezaina da boa!
Quando quase todos os amigos dos meus filhos (mesmo os da escola do António - faixa etária dos 2/3 anos) têm o seu próprio iPad, é difícil fazê-los entender que não é razoável que cada um dos três tenha o seu iPad e que, não é só porque temos dinheiro para ter uma coisa que a vamos comprar a correr. Há que fazer sentido. E não lhes consigo explicar que não faz sentido; à sua volta todos têm (materialmente) mais coisas que eles. E às vezes dá-me pena quando alguns miúdos vêm cá a casa e dizem que estar aqui "é uma seca" e que "estão aborrecidos". Damos-lhes bolas, bicicletas, trotinetes e patins em linha para brincar, mas normalmente isto fica aquém das expectativas. E os meus filhos ficam tristes porque os amigos "não se divertiram". E eu fico triste que na maioria dos casos estes miúdos não apreciem a sorte que têm por estarem num país onde podem brincar em segurança na rua durante quase todo o ano e só queiram jogar iPad, PS3 e coisas do género (os meus incluídos!). E fico muito contente por ainda haver alguns que sejam a excepção a esta regra, que se divertem bastante quando cá vêm, só por estarem com os amigos. Essas tardes dão sentido às nossas "teorias" e é bom constatar que eles de facto gostam de correr, jogar à bola, andar de trotinete, etc. Claro que os jogos são apelativos, até para os adultos. Nós tentamos equilibrar as coisas e até agora temos conseguido, mas está cada vez mais difícil. Então desde que temos cá em casa uma Playstation, ao fim de semana há sempre argumentos para não querer sair e discussões sobre os minutos que o outro jogou a mais e sobre a injustiça generalizada que é a vida deles, sem terem cada um o seu iPad, o seu iPhone e o seu iPod...
Já estive em reptilários com menos espécimes e a pagar.
Ps: já me calava com as osgas, eu sei, mas é mais forte que eu...
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas