Se me perguntarem se eu gosto de ir a sítios onde há duas portas de entrada consoante o género da pessoa, a minha resposta é nem por isso. Mas tenho que reconhecer que às vezes dá jeito. Andamos às voltas com a documentação necessária para fazer os nossos cartões de residentes, cartas de condução e afins. Alguns sítios já são mistos e somos atendidos por ordem de chegada. Nesses sítios já perdi algumas horas da minha vida. Depois há os outros sítios em que há duas entradas, duas categorias diferentes de senhas e salas de espera separadas para homens e mulheres. Normalmente nesses sítios há muito menos mulheres do que homens, o que significa que o tempo de espera é muito menor. Claro que por uma questão de principio acho que deviamos ser todos atendidos por ordem de chegada, mas quando hoje vi uma fila de homens que dava a volta ao edifício, respirei de alívio ao perceber que a minha fila não ia ser aquela :-)
Por exemplo: se as vacas são sagradas na Índia e não se comem, como é que no supermercado indiano cá do prédio há bifes de vaca da Índia?
Ou então: se os senhores da limpeza do nosso apartamento andam calçados (admito, não sei que seria pior, se calçados, se descalços...) em cima da nossa bancada da cozinha estando eu em casa a ver, o que farão quando eu não estou?
Coisas como estas devem justificar os nossos desarranjos gástricos e intestinais dos últimos dias, apesar de eu não comprar a carne de vaca que está rotulada como vinda da índia. Nunca fiando...
Fomos ao Dubai no fim de semana. O Afonso desde que soube que vínhamos para Abu Dhabi que começou a pedir para ir ver o Burj Khalifa (o maior arranha-céus do mundo) e lá fomos. Fiquei maravilhada. Eu que não sou nada shopaholic poderia tornar-me se vivesse naquela cidade. Muito bom, deixem que vos diga.
Se havia de escrever tudo no mesmo post ou fazer vários divididos por assunto. Tive preguiça mental e foi tudo no mesmo. Prometo que isto vai melhorar (até porque piorar é difícil).
And Welcome to the UAE.
Estas foram quase as primeiras palavras que ouvimos à chegada. O calor, a humidade, o frio do ar condicionado em todo o lado, as roupas, os costumes, as hordas de emigrantes do sudoeste asiático com as suas trouxas em forma de bagagem fizeram-me sentir num regresso e não num reinício. O regresso a uma casa fora de casa. Lembrei-me do Bahrain e das primeiras impressões que tive ao aterrar, dois anos antes, no aeroporto de Manama. A onda de choque que me invadiu em Setembro de 2009 nem sequer se fez sentir desta vez. Sabia exactamente o que me esperava.
Bem, não exactamente, é verdade. Uma das grandes surpresas que me esperava foi o verde desta cidade. É completamente inverosímil esta abundância de relvados, árvores, plantas e flores de todos os tipos no meio de um sítio que devia ser deserto. Outra diferença que notei, apesar desta já não ser surpresa é a ostentação e exuberância daqui. Abu Dhabi é uma cidade muito mais ostensiva que Manama. Aqui, tudo o que luz é ouro, quase literalmente. Há máquinas de levantamento de barras de ouro em alguns centros comerciais e hotéis, os carros, que já me impressionavam bastante no Bahrain, aqui são muito mais potentes, brilhantes e luxuosos.
Os primeiros dias serviram para nos situarmos. Eu ainda ando aqui meia aos papéis, sempre agarrada ao GPS e mesmo assim perco-me muitas vezes. Mas a cidade é organizada; temos vias rápidas (equivalentes a verdadeiras auto-estradas, em Portugal) para todo o lado. 4 ou 5 faixas em cada sentido e muitos carros a vir de todos os lados – nisso continuamos num país típico do Médio Oriente. A condução é muito parecida, ou seja, tudo ao molho e fé em Allah.
O Afonso e a Francisca já estão na escola, começaram no domingo passado. É um colégio inglês, que parece um bocadinho frio e impessoal em termos de instalações e aspecto exterior dos edifícios. Mas as professoras são bastante atenciosas e até quase carinhosas. Aqui não há o tipo de educadora e professora querida a que estamos habituados nos jardins-de-infância e escolas primárias portuguesas. Mas até aqui parece-me bem; parece-me haver equilíbrio entre as regras e a disciplina e o outro lado, da brincadeira livre e da expressão da criatividade. As crianças são provenientes de vários países, o que é bom.
Ainda não alugámos uma casa, estamos à procura de uma que não nos leve o couro e o cabelo. Aqui é que a porca torce o rabo (o que os meus filhos se iam rir se ouvissem esta expressão, que inclui palavras tão engraçadas como porca e rabo, mas isso fica para outro post….). A lei de arrendamento é uma coisa surreal. Quem quer ser inquilino quase não tem direitos, só deveres. Paga-se adiantado um ano de renda, não há cá pedidos especiais (tipo o fogão está num estado nojento, quero que o substitua), se quisermos sair da casa antes do ano de contrato terminar, na maior parte dos casos perdemos o dinheiro todo da renda, temos que contratar e pagar todos os serviços relativos à casa, etc., etc. Que saudadinhas dos senhorios do Bahrain, que até talheres nos incluíam no serviço….
Ainda andamos às voltas com papéis e procedimentos e legalizações. Na nossa to-do list está a obtenção de licença para comprar álcool. Aqui pedem uma carta da empresa a dar autorização para a obtenção da dita licença, comprovativo do ordenado (para calcular quanto podemos gastar por mês em booze, não é lindo?!) e depois podemos candidatar-nos à tal licença que nos vai permitir beber Porta da Ravessa ao preço de Pêra Manca.
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas