5 anos dão direito a uma bicicleta de menina, só para ela. Agora só é preciso ensiná-la a andar sem rodinhas...
Bem devia ter desconfiado. Antes do regresso enviei um e-mail para a sede do agrupamento de escolas da minha zona a explicar a nossa situação e a perguntar qual seria o procedimento para inscrever a Francisca e o Afonso na escola. Era só facilidades. Basicamente a coisa resumia-se a ir preencher o boletim de matrícula à escola e eles podiam começar no início do 3º período. Acrescentaram ainda que tinham vagas para as respectivas idades. Logo no dia seguinte à chegada fui à escola e afinal parece que era preciso um papel. Qual papel? O da escola anterior a certificar que eles vinham de um país estrangeiro e com informação sobre o ano que cada um frequentava. Canja. Trouxe o relatório, tem o carimbo da escola, a assinatura do director da escola e comprova que o Afonso está no 1º ano e a Francisca no jardim infantil. Ah, mas está em inglês, tem que ser traduzido. E a tradução certificada pela embaixada. E a embaixada tem que certificar que o documento é original, mas para isso o papel tem que estar carimbado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Bahrain. E o Ministério da Educação do Bahrain tem que certificar que aquela escola existe e que o documento é original. Ah, e afinal não aceitamos crianças do pré-escolar no 3º período.
Começaram ontem num novo colégio. Privado. A 30 km de casa, que aqui não há oferta de ensino privado para o 1º ciclo.
Depois de um dia passado a correr, chegamos a casa esfomeados. Ele agarra-se a uma pêra e degusta-a como se aquilo realmente saciasse alguém. Eu açambarco as trufas de chocolate e cá vai disto...
Não me devia queixar, não é? Que fazer, sou portuguesa, não passo sem uma boa lamúria sobre o meu triste fado e como a vida é injusta para quem tanto se sacrifica para estar em forma...
Ufa, depois de muitas horas enfiada em dois aviões e três aeroportos sozinha com os 3 lá cheguei à Portela. A viagem foi um bocado horrível. O percurso Manama-Istambul passou-se razoavelmente porque o António dormiu num daqueles berços do avião (com as pernas de fora e em excesso de carga para o berço, mas as hospedeiras tiveram pena de mim e lá me deram a camita). Consegui ir ao WC uma vez e devia ter aproveitado para lá passar meia hora porque depois não consegui mais.... Estivemos 3 horas em Istambul. O que vale é que havia uma sala só para crianças e depois do pequeno-almoço (sim, porque a viagem iniciou-se às 02h25m da madrugada) passámos nessa sala o tempo restante para o embarque. Istambul-Lisboa foi muito mau. O António tinha dormido apenas 3 horas no vôo anterior. No aeroporto não dormiu nada. No avião esteve sempre ao meu colo mas já estava farto, sem posição. Queria gatinhar, queria estar de pé, queria fazer tudo menos estar sossegado como era preciso... Não queria comer, não me deixou comer.... enfim. Chegamos a Lisboa e tinha 4 malas (3 com mais ou menos 35 kg cada e uma com cerca de 20) para carregar, mais a bagagem de mão e todas as cangalhadas que fizeram questão de reunir desde o aeroporto do Bahrain até àquele momento... Escusado será dizer que a maior parte das pessoas assobiou para o lado só para não ter que alombar com as malas. Mesmo assim, fez-se.
Hoje é o primeiro dia que o António está mais ou menos normal. Até aqui não queria estar sem ser ao colo, não queria brincar com nada nem ficar com os irmãos no quarto dos brinquedos. Não tem comido grande coisa. Deve estranhar a casa e todo este ambiente. Isso e o cansaço fizeram dele muito má companhia para estes dias. Já disse à família que ele não é assim, é um menino simpático, sorridente e bem disposto, mas até agora ninguém acredita em mim...
Temos estado mais por casa agora, para ver se ele se ambienta e pelos vistos está a resultar. As saídas têm sido para ir ao supermercado, ao parque e pouco mais. As pessoas metem-se muito conosco por eles serem três e já não estava habituada a isso. Viemos de um sítio onde ter 3 filhos é o mais vulgar do mundo e ninguém repara em nós por isso. Aqui estamos sempre a ser interpelados. Também noto alguma diferença nas minhas "companheiras" de parque. Ao contrário do Bahrain, não são da minha faixa etária. Só se vê avós nos parques com os netos, eu sou das poucas mães...
Pouco a pouco vamo-nos habituando...
Cada vez detesto mais aviões e viagens compridas.
Mas o sabor da chegada é muito bom :-)
Do playgroup às segundas-feiras, do buggy walk às terças, do mum&baby yoga às quintas, do family yoga às sextas, de ir ao parque ou à piscina depois da escola, dos playdates com as amigas (e que incluiam almocitos bem catitas), de ter tempo para não andar a correr (excepto quando está quase na hora de ir para a escola e há dois molengões a empastelar o pequeno-almoço), da segurança que se sente - cheguei a contar-vos que na estação do calor as pessoas estacionam os carros e deixam-nos ligados, com a chave na ignição, e vão à sua vida? Nos estacionamentos dos centros comerciais, dos supermercados, etc. Aqui não existem "portas de segurança" nem trancas. As portas da rua são iguais às portas interiores da casa; têm uma fechadura e se não estiverem trancadas abrem também pelo lado de fora.
De hummus, mutabbal, pão turco, kofta kebabs, sheesh tawooks, kube, thai panang curry, thai green curry e todas as coisas que passámos a comer (com gosto) aqui. Dos chocolates, gomas, refrigerantes e demais porcarias a preços escandalosamente baixos.
Das amigas, dos amigos e dos filhos deles. De conviver com eles, com tempo e disposição.
De ir ao souq, de regatear preços mesmo nas lojas de marca.
Desta calma toda que enerva às vezes mas obriga a desacelerar outras tantas.
Ontem vesti umas calças da secção "enquanto há vida, há esperança" do meu armário.
Qualquer dia chego lá. Agora o objectivo é que toda a roupa dessa secção me fique larga :-)
O António tem um ano. Devia fazer copy/paste desta frase e espetá-la aqui 200 vezes para ver se entra. Um ano inteiro já se passou. É um menino cheio de personalidade e consegue espantar-nos todos os dias. Tem brincadeiras estruturadas - mete bonecos dentro de carrinhos e anda com eles enquanto faz uma espécie de "vruuuum", vai para a cozinha da Francisca, mete as panelas ao lume e depois come o que cozinhou, põe as mãos sapudinhas à frente dos olhos e espera que eu pergunte "Onde está o António" para depois entoar um "está aqui!!!" (que lhe sai ááááiííííí).
Come bem mas já perdeu aquele corpito rechonchudo que o caracterizava. Já lhe tento dar a nossa comida mas ele gosta mesmo é de tudo passadinho em estilo de puré para não ter que se chatear. Se lhe dou alguma coisa menos passada, engasga-se, revira os olhos, cospe tudo. Entretanto como reparei que ele gosta de andar à cata das migalhas que caem dos irmãos, comecei a dar-lhe comida menos passada sem ser com colher e prato. Ponho-lhe uns bocados no tabuleiro e a coisa lá vai. Depois tento com a colher e é a fita do costume. Está bom de ver que a hora da refeição tem sido uma javardice pegada. Pode ser que qualquer dia deixe de associar a colher a comida passada e aceite comer como gente. Caso contrário estamos a criar um selvagem. Logo vemos.
Adora cantar, dançar e fazer as coreografias do yoga. Adora os irmãos, vibra com tudo o que fazem e às vezes é vê-lo a tentar entrar na brincadeira, através de gritinhos e saltinhos, a tentar participar. Ainda não anda, mas já se segura bem de pé sem apoio e já deu dois passitos por sua iniciativa.
É lindo e cada vez menos bebé...
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas