À conta das maravilhas da responsabilização e autonomização das criancinhas, todos os dias há qualquer coisa que vai para a escola e já não volta. A comida da lancheira muitas vezes vem intacta (parece que é suposto as criaturinhas gerirem o seu tempo e, claro, meia hora não é suficiente para sentar, abrir a lancheira e efectivamente comer o que lá vai dentro). Resultado, têm lanchado muito bem em casa; muitas das vezes o lanche é a própria comida que veio da escola. Ah, isto quando a lancheira volta, porque já houve um dia em que isso não aconteceu. Ficou perdida, ainda não se sabe muito bem onde... E uma das caixas da comida, e um casaco, e um atacador dos sapatos (???). Eu sei que eles são pequenos e demora a aprender isto tudo de sermos responsáveis pelas nossas coisas e organizarmo-nos de maneira a não perder nada. Epá, mas um atacador de sapato??? Como é que se perde um atacador de sapato sem se dar conta???
Hoje a distracção valeu-lhe uma ida à detention room. Motivo: foi fazer chichi à casa de banho das meninas. Como aconteceu isso?, pergunto, Ia tão aflito que ia a segurar a pilinha e a olhar para o chão e não vi o sinal da porta. Entrei na primeira porta que encontrei.
Estamos no pântano (outra vez). Ou será que nunca de lá saímos?
Estes miúdos ainda são mais malucos optimistas do que os pais. Ainda hoje o bebé fez 6 meses e já estão fartos de pedir mais um irmão (irmã, na preferência da Francisca).
Que não deu para estar com todos os amigos que queríamos. Começámos por passar um mesinho inteiro no algarve (e tão bem que nos soube...) e depois, no mês e meio restante ou não podíamos nós ou não podiam as outras pessoas. E entre cartões de cidadão, passaportes, compras para os meses a fio que aqui estamos sem acesso a coisas decentes a preços decentes, vacinas, pediatras, visitas a uns, almoços com outros, baptizar o bebé, etc, etc, esse mês e meio passou a voar. Ficaram algumas coisas por fazer e pessoas por ver.
Mas nem tudo está perdido. Os erros servem para nos ensinar: a solução é juntarem-se todos para o ano e fazerem-nos uma hiper mega festa com toda a gente junta no mesmo sítio, no mesmo dia. Parece-me mesmo a solução ideal para ver todos e evitar desgostos. Quem quiser chegar-se à frente, é só enviar um mail e eu forneço os contactos todos necessários. Até ao verão que vem temos tempo. O que me dizem?
Continuamos acampados, 4 num quarto e 1 noutro, mas em princípio mudamos esta semana - inshallah - se tudo correr bem e sem incidentes, o que por aqui não é garantido. Acho que quem vai ficar contente com a mudança é a vizinhança... Parece que a nossa ausência prolongada foi notada aqui no prédio. Quando encontrei alguns vizinhos no elevador ou na garagem todos sabiam que tínhamos estado fora muito tempo. E eu pergunto-me: se não nos cruzamos assim tantas vezes, como sabem que não estivemos?? Imagino que pelo silêncio reinante durante dois meses e meio. Chego agora à conclusão que os nossos vizinhos do lado não gostam tanto de incenso como eu pensava. Tenho para mim que nos querem gasear com aquelas coisas que queimam durante todo o fim de semana em casa e que entra pela nossa casa adentro, por baixo da porta.
E parece que foi ontem. É cliché mas bem verdade. Começou há poucos dias a aventura da comida com mais textura e não está grande fã. Ou perdi a mão para a bela tríade batata-cenoura-cebola ou então o rapaz é mais virado para os lacticínios...
Anda rabugento como tudo, ou é jet lag tardio ou então são dentes... Tem acordado durante a noite para comer, o que, convenhamos, não dá jeito nenhum... Logo agora, que já estávamos todos tão habituadinhos a que ele fizesse 10 ou 11 horas por noite seguidas.
Num dos últimos dias da nossa estadia em Portugal fomos a casa de uma amiga para devolver um sling que me estava emprestado desde o ano passado. O Afonso teve um dos momentos altos das suas férias. Naquela casa, que é bastante perto de Lisboa mas que não parece, havia um porco, perús, galinhas, pavões e se calhar mais animais que não vi ou não me lembro. O Afonso delirou com o porco (apesar de no fim da visita ter descoberto que ele ia ser comido e ter ficado com pena do bicho...) e com as galinhas. Esteve lá no meio delas, deu-lhes milho e acho que por ele tinha lá passado um dia inteiro. Quando saímos, e durante os dias seguintes, estava sempre a dizer que tinha muita inveja da vida daquele senhor (que era o pai dessa amiga), e porque é que o Francisco também não tinha uma vida assim, a cuidar dos animais e das plantas, e que o senhor é que tinha sorte, e que nós nada, a vida dele era muito melhor que a nossa, etc, etc.
Cheira-me que agora além de me pedir animais de estimação vai passar a pedir também para termos animais de criação...
Ainda vamos parar a uma casa que tem umas lindas camas de cetim dourado... Se isso acontecer, caros leitores, abro uma excepção e publico uma fotografia da minha casa para vos brindar com um cenário tão bonito e típico desta zona do mundo.
Tenho um filho no Grade 1 todo orgulhoso por ser o Prefect (acho que deve ser o nosso equivalente a delegado de turma) da sua classe. Entre muitos Abdollah, Mohammed, Ahmed, há uma menina chamada Cecília que fala português transatlântico, o que não deixa de ser uma lufada de ar fresco.
A Francisca também está toda orgulhosa de estar no KG1 e acordou toda cheia de iniciativa e vontade. Vamos ver se se mantém. A mim, sinceramente, desagrada-me um bocado a arabização crescente da escola. Há cada vez menos ocidentais e cada vez mais árabes. Um ambiente mais heterogéneo parece-me que talvez fosse mais saudável. Uma coisa curiosa é que o nome da professora da Francisca soa estranhamente a português neste meio. Parece que está fora de contexto. Tenho que perguntar à Miss Mascarenhas se é luso descendente (mas às escondidas, que neste colégio os pais estão proibidos de falar com os professores - regra que parece estranha até se conhecer os pais árabes e os modos com que se dirigem às pessoas que lhes prestam serviços, no geral).
Eu que nunca fui adepta do campismo, estou há uma semana acampada na minha própria casa. Ainda nem desfizemos as malas. No dia do nosso regresso, ao entrar em casa, deparámo-nos com um cenário desolador. Tínhamos algumas paredes cobertas de bolor e humidades desde o chão até ao tecto. O quarto do Afonso e da Francisca está fechado até hoje porque até as mobílias ficaram quase inutilizadas com tanta humidade. A construção no deserto é uma coisa fabulosa. As casas não estão preparadas para lidar com esta humidade brutal e nós, na nossa ingenuidade, não deixámos o ar condicionado ligado nem pedimos a ninguém que cá viesse de vez em quando ligá-lo. Aparentemente, as pessoas aqui quando vão de férias deixam os equipamentos ligados. Nunca nos passaria pela cabeça deixar o AC ligado durante dois meses e meio... Fiquei tão mal disposta que até vomitei. Não sei se foi paragem de digestão (logo desta vez, que a comida do avião estava tão boa:)), se foi a descompressão da viagem e do stress do regresso, se do cheiro da humidade, se de tudo junto, a verdade é que não foi bonito...
Resultado: andamos em processo de mudança de casa, o que é sempre giro, principalmente para mim que adoro mudar de casa... (leitores mais distraídos, é favor ler isto com tom irónico...)
Correram as duas optimamente, considerando que viajámos com três crianças. A viagem para Lisboa foi feita durante a noite, o que torna a recuperação mais difícil porque é, para nós, uma noite quase em claro seguida das emoções todas do regresso. Principalmente desta vez que trazíamos o António, que ainda ninguém da família conhecia. A noite foi passada com ele sempre ao meu colo e dormi muito pouco. Ele foi dormindo, incomodado com o ar seco do avião. Fui-lhe pondo soro fisiológico no nariz mas ainda assim nos primeiros dias estava meio constipado por causa disso. O Afonso dormiu bastante tempo e a Francisca desta vez também conseguiu dormir alguma coisa. Chegada à Portela, vi-a muito observadora. Escutava atentamente as conversas e depois perguntou-me porque é que todos ali estavam a falar português. Soou-lhe estranho, coitada. Como eu vinha meio ensonada, estreei-me logo a ser enganada por um taxista que me roubou no troco.
O regresso para o Bahrain correu bem. A viagem foi toda feita de dia; saímos de Lisboa de manhã cedo e nos dois vôos que fizemos havia lugares disponíveis, o que nos permitiu ocupar duas filas inteiras seguidas e deixaram-me pôr a maxi cosi num dos lugares, o que acabou por ser mais confortável para todos. Durante o dia há sempre filmes para ver e desenhos para pintar, o que nos facilita bastante a vida durante essas horas. Chegados aqui, não estava tanto calor como pensávamos. Deviam estar cerca de 38ºC e alguma humidade no ar mas nada que se comparasse à primeira vez que aqui chegámos, em Setembro do ano passado. Nesse dia estavam 45ºC à noite, por isso desta vez tivemos uma surpresa agradável com a temperatura. Mesmo agora por estes dias já se anda bem na rua, ao fim da tarde. A pouco e pouco vamos recuperando os nossos hábitos daqui e entrando nas rotinas...
a horta já tem direito a etiqueta e tudo
futebol mas só porque estamos em alturas